Três poemas de amor de coletânea intitulada "Marvadas".
aniversário.
queria um presente
que não fosse de comer
porque poema também se come
mas que te deixasse com fome
e que quando quisestes na mão
era só chamar meu nome
que não fosse animal de raça
nem livro, pra guardar traça
que fosse a primeira janela
por onde depois de acordar
você passa
que fosse uma moldura bonita
sem vidraça
pra que eu te desse
o mundo lá fora
de graça.
queria um presente
que não fosse de comer
porque poema também se come
mas que te deixasse com fome
e que quando quisestes na mão
era só chamar meu nome
que não fosse animal de raça
nem livro, pra guardar traça
que fosse a primeira janela
por onde depois de acordar
você passa
que fosse uma moldura bonita
sem vidraça
pra que eu te desse
o mundo lá fora
de graça.
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de quebra.
uma herança aos pequenos:
que, se algo quebre,
que não seja o espírito.
quebrem as louças.
as xícaras (com ou) sem café,
até mesmo os pratos rasos.
que se quebrem promessas,
caso não sejam importantes demais.
quebrem galhos de árvores,
que choquem-se no chão como
uma luta de cervos.
que se quebre o hábito
e, com ele, as manhãs de
quartas-feiras.
mas que não se quebre
o encanto dos sábados pela manhã.
amarelo.
eu me lembro de ser pequeno,
desses meninos pequenos que
pensam que podem voar junto
ao sopro do vento.
eu era minúsculo e acordava,
com a casa só para mim,
sozinho e com os olhos
costurados pelo sono.
amava um imenso
ipê amarelo que anos depois
vim a perceber que era uma
pintura na parede da sala.
acredito que o primeiro amor
é sempre assim (sempre foi,
comigo): lindo, onipresente
e abstrato, feito um ipê
na parede da sala.